sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Dinamarca é o país mais feliz do mundo


31/05/2010 por saudefloripa33pj

Como a Dinamarca consegue dar um extraordinário grau de satisfação a seus cidadãos
Em 2006, estudiosos da Universidade de Leicester, no Reino Unido, divulgaram os resultados de uma pesquisa pioneira. Eles usaram uma série de fatores para criar um mapa – de imediato respeitado e posteriormente emulado de várias formas – da felicidade no mundo. De dados relativos à saúde e educação pública ao grau de satisfação das pessoas com os rumos de seu país, a alegria planetária foi prospectada e investigada como nunca antes.
No topo da lista, não estava um ensolarado e luxuriante paraíso tropical nem alguma terra marcada por prazeres consagrados como uma culinária irresistível. O país campeão mundial de felicidade era, sob muitos aspectos, uma improbabilidade: temperaturas abaixo de 20 graus negativos em invernos intermináveis e taxas altíssimas de Imposto de Renda. A Dinamarca deixou o mundo inteiro para trás. Não só na lista da Universidade de Leicester, como em sucessivas outras feitas de lá para cá.
Qual é a mágica?
Se você vai à Dinamarca, o mistério se desfaz em pouco tempo, apenas com o que seus olhos alcançam. As pessoas sorridentes, saudáveis e bonitas que circulam de bicicleta pelas ruas bem tratadas e seguras de Copenhague são uma cena que impressiona e eleva a alma de forasteiros. A alegria está no ar. Você não se sente dominado pelo medo ao caminhar à noite por Copenhague, como acontece em tantas cidades brasileiras. Tampouco vê pessoas aflitas, como em metrópoles como Nova York, andando apressadamente com celulares colados aos ouvidos e laptops prontos a ser ligados em qualquer parada num café. Copenhague, a capital e a alma da Dinamarca, é diferente. Para melhor. Para usar uma expressão memorável de Hemingway sobre a Paris dos anos 20, a Copenhague contemporânea é uma festa móvel.
O que os olhos do visitante não captam os livros explicam com clareza. Os 5,5 milhões de dinamarqueses são como que guiados pelo Janteloven, ou Leis de Jante. Jante é uma cidadezinha imaginária criada pelo romancista Aksel Sandemose em 1933 no livro Um fugitivo cobre seus passos. Os traços básicos dos habitantes de Jante refletem o dinamarquês médio. Uma frase das Leis de Jante resume o espírito da coisa: “Você não é melhor que ninguém”. Logo, ninguém também é melhor que você. A Janteloven estimula a modéstia e a simplicidade – e acaba sendo uma armadura contra golpes na autoestima. As Leis de Jante têm o efeito de fazer os habitantes da Dinamarca sentir que ninguém é superior a eles.
Elas têm sido, de tempos em tempos, objeto de revisão e, não raro, questionamento. Alguns anos atrás, a treinadora de um time olímpico feminino dinamarquês causou celeuma ao se deixar fotografar com um agasalho esportivo em que estava escrito: “Dane-se a Janteloven”. Ela queria dizer que, em seu time, as jogadoras deveriam querer ser melhores que as outras. O desempenho da equipe não foi brilhante, e a estrela da treinadora foi deixando paulatinamente de brilhar. A Janteloven sobreviveu, e muito bem, às agressões estampadas no agasalho. Ela é uma instituição dinamarquesa, um motivo de orgulho e reverência – e controvérsias em torno dela fazem parte do espírito inquisitivo do país.
Compare o modelo mental esculpido pela Janteloven com a divisão estabelecida na sociedade americana entre vencedores e perdedores. Há uma crise econômica e você perde o emprego nos Estados Unidos: consequentemente, está transferido para o time dos derrotados. Não é pouca a pressão. Em nenhum dos muitos estudos feitos sobre o tema da felicidade os Estados Unidos aparecem entre os primeiros colocados. Tampouco o Brasil, é verdade. A ideia de que o brasileiro é um povo feliz pertence à categoria de mitos e lendas. Uma pesquisa recente feita por um instituto internacional chamado Pew, na qual foram ouvidas 200 mil pessoas de 57 países, mostrou que apenas um terço dos brasileiros está satisfeito com os rumos do país. Os traços básicos da Dinamarca são parecidos com os de outros países da região, como Suécia, Noruega e Islândia. Todos eles, previsivelmente, costumam brilhar em levantamentos globais de felicidade. “O conceito de felicidade ou satisfação com a vida é uma das áreas mais importantes de pesquisa em economia s e psicologia”, diz Adrian White, o coordenador do estudo da Universidade de Leicester. “Há um interesse crescente no uso de métricas de felicidade como um indicador nacional, em conjunção com medidas de riqueza.” Uma pesquisa feita na Inglaterra revelou que 81% da população acha que o governo deve se centrar em tornar as pessoas mais felizes, não mais ricas.
Como seus vizinhos nórdicos, e eis aí mais um fator positivo para aumentar a satisfação, a Dinamarca é um lugar libertário por excelência. A liberdade de expressão é um valor tão sagrado como a bandeira nacional. Não surpreende que tenha sido lá o lugar em que alguém ousou desafiar o fundamentalismo islâmico com a publicação e a republicação alguns anos depois de caricaturas de Maomé. Numa delas, o Profeta aparecia com uma bomba. Em outra, com o corpo de um cachorro. As charges deram origem a protestos enfurecidos, parecidos com os que se seguiram à publicação em 1989 de um romance de Salmon Rushdie que lhe valeu uma condenação à morte – não consumada – pelo aiatolá Khomeini, então no poder no Irã.
Produtos dinamarqueses foram boicotados por países muçulmanos, bombas explodiram, marchas e ameaças de toda natureza foram feitas. Calcula-se que 150 pessoas tenham morrido nos tumultos nascidos das charges. Os editores dinamarqueses, ao publicá-las e republicá-las, queriam deixar claro que não se vergavam diante de intimidações e não recuariam de outro valor nacional: a ironia. Esse é um traço que encontrou seu símbolo maior no filósofo existencialista Soren Kierkegaard, da primeira metade do século XIX. Conhecido como o Sócrates de Copenhague, Kierkegaard é lido, comentado e cultuado pelos dinamarqueses. Estátuas dele fazem parte destacada da paisagem de Copenhague. Ele escreveu sob diferentes pseudônimos, e muitas vezes o que afirmava num deles era desmentido em outro. “O mundo já tem gente demais que facilitou a vida das pessoas, com coisas como o telégrafo e a locomotiva”, disse Kierkegaard com um dos pseudônimos. “Meu papel é dificultar.”
O apreço à liberdade de expressão pode levar a paroxismos. É permitida na Dinamarca a veiculação de desenhos de pornografia infantil, por exemplo. Neste momento, os políticos locais estão discutindo isso. Um deles disse que, se não for comprovado que os desenhos estimulam os pedófilos a praticar crimes, será difícil mudar a legislação. Foi sob a mesma lógica permissiva que os alemães publicaram, na década de 1920, Mein Kampf (Minha Luta), um livro em que Hitler antecipava tudo o que faria, alguns anos mais tarde, no poder: basicamente, dedicar-se a um projeto bélico de dominação global da Alemanha e exterminar os judeus. Alguns países de tradição igualmente libertária promoveram recentemente ajustes na liberdade de expressão. No Reino Unido, “glorificar o terror” – elogiar a Al Qaeda de Osama Bin Laden e grupos terroristas similares – dá, agora, cadeia.
Os efeitos desanimadores dos impostos altíssimos da Dinamarca (entre 50% e 70% da renda) são mitigados pelo que o Estado oferece, em contrapartida, aos cidadãos. O dinamarquês tem, a despeito da mordida enorme em seu patrimônio, uma relação tranquila e decente com a taxação. É bem diferente do que ocorre em países como a cambaleante Grécia, onde as pessoas costumam se gabar em reuniões sociais de como driblaram o fisco. Uma das razões da presente tragédia financeira grega é exatamente a alta evasão de impostos. Para ter uma ideia, a economia informal grega chega a quase 30% do PIB. Isso se reflete numa sonegação de cerca de 10% do PIB. É uma informalidade parecida com a do Brasil. Uma das explicações que os economistas dão para esse fenômeno é que em democracias relativamente jovens, como é o caso da Grécia e do Brasil, o espírito público da sociedade é menor. Os cidadãos não enxergam um benefício claro no dinheiro que o Estado quer tomar deles.
Na Dinamarca, a economia paralela é uma das menores do mundo: gira em torno de 10%. Os impostos financiam o sistema educacional gratuito, a começar por dez anos de escolaridade obrigatória. Também o ensino superior é gratuito. Nos seus anos escolares, os jovens dinamarqueses recebem uma ajuda do Estado. Ao se iniciar na vida profissional, eles são beneficiados por um sistema de formação contínua. O Estado gasta 9% do PIB em educação, o dobro do que acontece no Brasil. As escolas preparam com capricho seus alunos para o mundo globalizado. Tão difícil quanto avistar sinais explícitos de pobreza na Dinamarca é topar com alguém que não seja fluente em inglês – seja um lixeiro, porteiro de restaurante, motorista de táxi ou o que for.
Os dinamarqueses desfrutam também um sistema de saúde invejável. Os hospitais são gratuitos e o acesso a médicos especialistas é franqueado. Se você tem uma doença crônica, como diabetes ou pressão alta, pode comprar por preços reduzidos remédios subsidiados pelo governo. A Dinamarca investe 20% do PIB em saúde pública. Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz mostrou que no Brasil esse número gira em torno de 4%. Os dinamarqueses recebem uma pensão a partir dos 65 anos.
Mas têm oportunidade de seguir trabalhando depois em horários adequados, em nome da saúde mental. Num museu nos arredores de Copenhague, por exemplo, você encontra guardas de mais de 70 anos que têm uma jornada de trabalho de dez dias por mês. Um deles, com quem converso, é um oficial reformado da Marinha. “Numa escala de zero a dez, qual é o seu grau de felicidade?”, pergunto. “Oito”, ele responde num inglês fluente, depois de uma breve reflexão. Sem pretensões científicas, fiz a mesma pergunta a variados habitantes de Copenhague de diferentes profissões e origens. Em nenhum caso a resposta foi menor que oito. Todas as pessoas que abordei foram afáveis e delicadas. Tente fazer o mesmo em cidades como Paris ou Londres e você provavelmente receberá alguns pontapés em sua autoestima.
A Dinamarca é um raro exemplo de país em que o chamado Welfare State, o Estado de Proteção Social, foi preservado nas últimas décadas. Os ventos sopraram fortemente na direção econômica contrária, sob a pregação do Estado mínimo defendido com imenso sucesso nos anos 80 por líderes mundiais como Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Na Inglaterra, a rede de proteção social armada depois da Segunda Guerra Mundial foi, em boa parte, desativada. Na França, o presidente Nicolas Sarkozy foi eleito há dois anos com uma plataforma inspirada em Thatcher. A Dinamarca decidiu não reinventar seu sistema, nascido como uma espécie de terceira via entre o capitalismo e o socialismo. Pelo que mostram os estudos, e por aquilo que qualquer visitante verifica, os dinamarqueses ficaram felizes com a decisão.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"TENHO 22 ANOS E SOU VIRGEM. SOU NORMAL?"



A T. me fez uma pergunta por email, que eu respondo abaixo.
 
"Acompanho seu blog há algum tempo e aprecio muito seus textos. Parabéns mesmo pelas postagens. Não me considero feminista, mas seus textos são universais. E agora que já fiz a média vou fazer o pedido.                      
Gostaria de pedir um post sobre o vício cada vez maior das pessoas por sexo, a dependência que a sociedade está criando em relação a ele, e como uma coisa que era para ser boa e prazerosa virou uma obrigação. Já li textos seus sobre dúvidas de outras pessoas e foram sempre sensatos e certeiros, então talvez você possa me fazer enxergar um novo ângulo da coisa.
Tenho 22 anos e sou o tipo de pessoa introspectiva, note bem que eu disse introspectiva, não tímida. Apesar de ter bons relacionamentos com as pessoas em geral, quando se trata de relacionamentos amorosos não consigo e não quero partir para uma coisa mais íntima logo de cara, e o resultado disso é que nunca me relacionei.Uma vez em um dos meus empregos, quando eu tinha entre 19 ou 20 anos, num papo qualquer, meu chefe perguntou algo sobre meus ex-namorados e um amigo, que sabe sobre minha “movimentada” vida afetiva, olhou para ele e disse: ex-namorados? Então meu chefe começou a rir e soltou a pérola: Sim, ou você quer me convencer que nessa idade ela só teve um? Lembro-me de ter começado a rir e pensado que é meio estúpido como as experiências são agora avaliadas não mais pela importância, mas sim pela quantidade, e que as pessoas estão se transformando em relógios gigantes em que tudo tem tempo e data marcada.
Sou muito anormal ou isso é mesmo doentio? O pior é quando descobrem sobre esse “segredo terrível”, como se experiência sexual fizesse parte do seu currículo social. É deprimente a forma como a sociedade olha, como se eu fosse infantil, estranha, anormal, retrógrada ou manipulada por alguma religião. Não é ridículo eu ter que brigar pelo direito de não fazer sexo? É tão estranho assim considerar um relacionamento saudável quando ele se constrói através do conhecimento do parceiro, da amizade e do afeto ao invés da pura e simples atração?
Não se trata de um comportamento assexuado, não estou menosprezando o poder do sexo, entendo e aprecio sua importância, mas tenho a impressão de que cada vez mais os relacionamentos entre as pessoas estão girando quase que exclusivamente em torno dele. 
E então, Lola, o que faço? Trepo com qualquer um e tento me normalizar abrindo mão da minha liberdade sexual e tornando possível que alguém se interesse o suficiente para me conhecer? Ou mando todo mundo tomar no ** e sigo sozinha? (Desculpa o palavreado elevado...)
Gostaria de deixar claro que não tenho nenhum problema de autoestima e nem com minha aparência, adoooro meu corpo, apesar de brigar com ele de vez em quando. 
Sou ateia, ou seja, meu comportamento não é um condicionamento religioso, e por último não acredito em amor perfeito e exatamente daí vem minha frustração, as pessoas falam de realismo nos relacionamentos, mas não têm paciência para construir um a não ser que seja tudo rápido e prático. Talvez eu é que seja estranha por funcionar em uma marcha lenta bizarra, mas é pedir demais querer conhecer a pessoa antes de enfiar a minha língua nela? Essa última frase tem vários sentidos e acho que quero dizê-la em todos eles...
O engraçado é que nesse ponto os homens sofrem mais, afinal mulher virgem no máximo é baranga ou dependendo do caso um fetiche (não sei o que é pior), mas homem virgem é incapaz, bicha, fraco, não gosta de mulher. A cobrança é muito pior para eles (culpa da sociedade machista?).
Acredito que, desde que não interfira no direito de outrem, as pessoas devem fazer o que se sentem bem fazendo e serem livres para isso. Não tenho absolutamente nenhum problema com quem consegue viver tranquilamente nesse padrão “físico”, não estou dizendo que ele é errado e nem o menosprezando, até porque NINGUÉM é dono da verdade, mas que eu sofro por não me adequar a ele eu sofro, e muito..."

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Abaixo o diploma de jornalismo


NOVA YORK - Faltei à formatura da minha faculdade. Fiquei pendurada porque tirei nota baixa em estatística, tive de fazer o crédito em recuperação e colei grau sozinha no meio do ano. Confesso que não me recuperei em estatística. Assim como não aprendi jornalismo na escola de jornalismo. Lembro dos professores complacentes, um lacaniano esquisito (pleonasmo?), um comunista feroz, uma preguiçosa que não preparava nada e flertava com alunos.

Só fui boa aluna até o fim do segundo grau. Faltava muito à aula na faculdade porque já trabalhava como repórter. Aprendi o ofício na redação.
Uma vez, não preparei o trabalho final de uma matéria e só me lembrei na manhã da última aula. Lavei um vidro de geleia, datilografei várias palavras e joguei o papel picado lá dentro. Sacudi e entreguei para o professor, dizendo que era um poema concreto. Tirei nota 8.
Obrigar o jornalista a ter diploma de jornalismo é como obrigar um cantor a tomar aula de voz antes de cantar no palco, uma violação da liberdade de expressão. Não que uma boa escola de jornalismo seja inútil, pelo contrário, a da Columbia University, aqui perto, é uma usina de grandes profissionais. Mas é uma escola de pós-graduação, você só é aceito se já escrever num nível cada vez mais raro na nossa imprensa.
As redações eram a lição de anatomia do jornalista da minha geração. Hoje é indispensável aprender técnicas do jornalismo digital. Jornalista deve estudar, acima de tudo, português e se educar em história, literatura, economia, ciência, filosofia e ciência política. Quem chega à redação passou pelo crivo de editores e competiu com seus pares, mesmo por um estágio.
Não compreendo por que um graduado em economia que escreve bem seria impedido de cobrir o Banco Central e substituído por um foca que pode ser facilmente enrolado, já que não decifra a informação financeira. Não fui capaz de questionar porta-vozes do governo quando tive que substituir colegas na cobertura da negociação da dívida externa em Nova York. Não entendia bulhufas dos comunicados.
O senador paraibano Cícero Lucena declarou, orgulhoso, pelo Twitter, que votou a favor da obrigatoriedade do diploma porque "democracia se faz com jornalismo ético, profissional e técnico". Sua excelência vai me desculpar, mas essa frase não passa pelo copidesque. O que tem a democracia a ver com a profissionalização do jornalista? E com sua capacidade técnica de fazer fotografia com foco? A ética começa ainda na primeira dentição, em casa, é aperfeiçoada durante a educação e é fundamental para qualquer profissão.
A democracia se faz com jornalismo, ponto. Quando Thomas Jefferson disse que era melhor ter um país sem governo do que um país sem jornais, a inspiração era o civismo, não o corporativismo. O baixo nível da maioria das escolas de comunicação é que erode a democracia porque joga milhares de jovens iletrados na vala comum do subemprego, fabrica profissionais despreparados para contestar o poder e investigar a corrupção num mundo cada vez mais sofisticado e falsificado pelo marketing. Não foi coincidência Charles Ferguson, ganhador do Oscar de 2011 por Inside Job, ter conduzido as entrevistas mais reveladoras já feitas sobre o crash de 2008. O homem se formou em matemática e fez PHD em ciência política, sabia o que perguntar.
A desculpa usada pelo senador sergipano Antonio Carlos Valadares - empresas de comunicação se opõem ao diploma porque querem contratar mão de obra barata - é absurda. A epidemia de cursos superiores de jornalismo alimenta a distorção de mercado que baixa os salários. Por que só o senador Aloysio Nunes Ferreira teve coragem de apontar a aberração constitucional do voto? Qual o motivo por trás da esmagadora maioria dos votos a favor?
E o que define para esses parlamentares a tal profissão, numa era em que qualquer um munido de smart phone pode narrar e fotografar um atentado no Afeganistão e apertar "enviar"? A diferença é editorial e o público vota no bom jornalismo selecionando onde deposita sua atenção. As empresas de comunicação que quiserem produzir seu conteúdo com mão de obra medíocre e barata terão na exigência do diploma sua maior aliada.
O jornalismo é um bem social importante demais para ficar nas mãos de jornalistas diplomados.
Lúcia Guimarães

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Verdade Incomoda


RESPOSTA À SRA SILVIA B. A.  POR DANI VASQUES

(Que vale também para todas as outras pessoas que se sentem incomodadas com as minhas, e demais campanhas vegetarianas à favor da libertação animal )

A Sra Silvia B. A. me mandou uma mensagem inbox, e parecia bastante revoltada, reclamando das minhas campanhas, dizendo que está incomodada e cansada dessas campanhas pró vegetarianismo, e que ninguém vai dizer o que ela deve comer pois ela irá comer o que quiser, entre outras coisas. Até aí, tudo bem, já estou acostumada com esse tipo de coisa, mas fiquei um pouco confusa quando ela, além de dizer que vem "de uma familia de caçadores,sei tirar a pele de um coelho inteirinha,caçar um javali,fazer cobra com arroz.....", achou graça ao falar dos cachorros que são mortos para virarem comida na China, colocando vários "rs" no final da frase.  Achei a Sra Silvia um tanto quanto insensível ao sofrimento desses animais, o que é estranho, já que ela publica várias mensagens com cãozinhos e gatinhos em sua página. Resolvi preservar a identidade dela, porém, além de respondê-la, colocarei a resposta em nota, para que todas as outras pessoas que também se incomodam com as  campanhas da página leiam.

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Olá Sra Silvia !

Acho que você está com um certa dificuldade em perceber o foco das campanhas que compartilho.
Não tenho interesse na dieta das pessoas.
Não estou aqui para dizer como as pessoas devem se alimentar.
Eu não estou tentando impor a você, nem a ninguém, o que se deve ou não comer. Você pode comer a comida que você quiser. 
Estou apenas concientizando as pessoas que a carne, que você chama de comida,  são animais, seres sencientes, uma vida e não um produto. O foco de minhas campanhas é a libertação animal.

Não entendi a sua revolta. Não estou te proibindo de comê-los.
Não tenho esse poder. A decisão de comê-los ou não, é sua.
Assim como a decisão de não comer a carne, que você vem aqui na minha página dizer que gosta e muito, é minha.
E a decisão de fazer, ou não, campanhas a favor do vegetarianismo também.

Estou aqui apenas defendendo algo que acredito, uma atitude que eu julgo correta. Eu acredito que, me calando diante de uma injustiça, eu estou sendo conivente com ela.
Não me calo diante de uma injustiça contra nenhum ser indefeso.
Não me calaria se visse uma criança sendo violentada.
(Eu faço campanhas também contra violência infantil, você acha que eu deveria parar, porque vou incomodar as pessoas que gostam de violentar crianças?)
Não me calaria se visse um idoso sendo agredido, não me calo se vejo um gato ou um cachorro sendo maltratado, e não vou me calar diante das atrocidades que são cometidas, todos os dias, nos matadouros, com animais que também sofrem e sentem dor, simplesmente porque isso incomoda algumas pessoas.

Eu lamento que isso te incomode.
Não pelo seu incômodo em si, mas porque existem tantas coisas ruins e tristes no mundo, que o fato de você se incomodar com pessoas que defendem a vida de seres inocentes me faz sentir pena de você.

Eu me incomodo com o fato de existirem crianças que morrem de fome, enquanto muitas pessoas não comem apenas para viver, mas vivem pra comer, enchendo as suas enormes panças em churrascarias, indiferentes ao número de vidas que foram ceifadas para isso. Me incomodo com tanta desgraça, com tanta indiferença, com tanto preconceito, com tanta violência.
Me incomoda saber que existem pessoas que se importam mais com o próprio estômago, e afirmam, sem nenhum remorso, que um momentâneo prazer do paladar é mais importante que a vida de um animal inocente, que deseja viver, e possui esse direito, tanto quanto nós.

E sabe o que é pior?
Existem várias páginas no facebook que incitam o preconceito e a violência e eu aposto que você nunca foi até uma delas para reclamar e dizer que você está 'cansada disto'.
Mas você perdeu o seu precioso tempo e veio aqui reclamar.
E sabe porque ?
Porque aquilo que expõe o nosso erro, incomoda muito mais do que qualquer outra coisa com a qual não concordamos.
Você pode seguir fingindo pra você mesmo que isso está certo, mas todos nós, inclusive você, no fundo, sabe que não está.

Nós somos animais também.
Animais humanos que se auto-denominaram superiores a todas as outras espécies.
Superiores? Se for em estupidez e covardia, eu concordo.
O ser humano acha que possui a Terra, e que tudo que existe nela está aqui para nos servir, inclusive os animais, mas a verdade é que apenas compartilhamos a Terra com eles.
O fato de pertecerem a uma espécie diferente não nos dá o direito abusar deles, e julgar a vida deles menos valiosa que a nossa.
Isso é especismo. E o especismo é tão repugnante quanto o racismo.

Eu costumo receber mensagens como a sua de vez em quando, porém,  também recebo muito apoio, até mesmo de pessoas que ainda comem carne, que me agradecem, pois dizem através das informações e das campanhas  que divulgo, elas começaram a ter consciência de uma realidade que elas não conheciam, de algo que elas nunca tinham parado para pensar, e que mesmo sendo difícil para elas largarem o hábito de comer carne, elas conseguiram diminuir bastante e se sentem mais saudáveis e que provavelmente, um dia, irão conseguir parar de vez.
Muitas pessoas viraram vegetarianas através das campanhas que divulgo e me agradecem porque dizem que estão felizes por não colaborar mais com tanta morte e se sentem melhores consigo mesmas e com os animais. 
Então, Sra Sílvia, eu não vou deixar de fazer campanhas pró vegetarianismo porque algumas pessoas que são egoístas demais e possuem a mente fechada demais, para sequer refletir sobre o assunto, se incomodam com elas.

Ah!  E antes que eu me esqueça...   Não!....Vegetarianos não comem só cenoura. Dizer isto é dar atestado de ser uma pessoa com muita falta de criatividade para fazer piadas ou ser estúpidamente mal informada, e me faz sentir vergonha alheia, por favor, não faça mais isso. Informe-se.

Só mais uma coisa, eu vi que a Sra publicou na sua página uma imagem com um gatinho e um cãozinho que dizia "Por favor, não desconte nos animais suas raivas e frustações."  Muito bonito isso! Mas, Sra Silvia, vacas, porcos e galinhas também são ANIMAIS, então lembre-se, por favor, de também não descontar sua GULA neles.

Obrigada pela atenção.


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"Para ser vegetariano não é necessário nenhum super poder ou alto grau de evolução.Basta ter consciência, atitude e compaixão."

 Dani Vasques